Fundador da Sociedade Brasileira de Eletroacupuntura – SOBEA
Membro da Sociedade de Eletroacupuntura Médica do Japão
Nesta oportunidade de prefaciar o livro “Eletroacupuntura e
Eletrodiagnóstico : Método Ryodoraku de Regulação do Sistema
Nervoso Autônomo", de autoria de Dr. Kimiya Goto, lançado no
I Congresso Internacional Brasil-Japão de
Acupuntura e Eletroacupuntura Científica, evento oficial das comemorações ao
Centenário da Imigração Japonesa para o Brasil e do Ano de
Intercâmbio Brasil-Japão, no Rio de Janeiro, sinto-me no dever
de me reportar a história da Acupuntura Japonesa em nosso país e
da Eletroacupuntura no mundo.
Este livro do Professor Kimiya Goto, atual vice-presidente da
renomada Sociedade Japonesa de Medicina Ryodoraku, exercendo
ainda o cargo de Chefe do Departamento Científico dessa
conceituada Sociedade, é de fundamental importância para o
aprimoramento dos profissionais em Acupuntura.
A velocidade com que a ciência tem se desenvolvido é
impressionante. Entretanto, os campos de pesquisa na área da
Acupuntura estão muito limitados por falta de recursos e os
resultados das pesquisas, quando ocorrem, não são devidamente
divulgados.
O Sistema Terapêutico Ryodoraku de Eletroacupuntura e
Eletrodiagnóstico, desde que foi criado e sistematizado como um
método objetivo e cientifico pelo falecido Dr. Yoshio Nakatani
em 1950, contribuiu substancialmente para a abordagem científica
da Acupuntura e da Moxabustão no mundo.
A Acupuntura Japonesa tem conservado as características
culturais de seu povo: a extraordinária capacidade criativa e a
objetividade na prática clínica. Fundamentada nas teorias da
medicina chinesa há mais de 1500 anos, a acupuntura japonesa
conservou as técnicas e procedimentos tradicionais e ainda
manteve um aperfeiçoamento científico permanente dos
conhecimentos assimilados dos povos ocidentais a partir do
século XVII. Várias técnicas de acupuntura foram desenvolvidas
no Japão a partir desse modelo que integra as teorias milenares
com o conhecimento cientifico.
Este modelo integrado da Acupuntura, fundamentado na
multidisciplinaridade, produziu novos conhecimentos. A
Acupuntura associada a outras terapias da medicina oriental,
como a Moxabustão, a Fitoterapia, o Shiatsu, além de todo o
sistema oriental de saúde, estabeleceu uma identidade
inconfundível da medicina oriental japonesa.
Assim, nasceu a Eletroacupuntura: associando a teoria médica
tradicional ao conhecimento científico vigente. A
eletroestimulação em pontos de acupuntura, visando otimizar os
efeitos terapêuticos da referida técnica, sempre foi um desafio
para os pesquisadores dessa área desde o final do século XIX.
Entretanto, somente no início do século XX é que as experiências
dos cientistas japoneses Komon Morita e Rokuro Fujita
despertaram o interesse sobre o assunto. A partir daí foram
implementadas diversas teorias e a criação de modelos de
aparelhos eletroestimuladores com o propósito de potencializar a
estimulação acupuntural, sobretudo nos quadros álgicos.
Vários acupunturistas japoneses despontaram na pesquisa com
acupuntura em meados do século passado, dentre eles os doutores
Sasagawa, Imaizumi, Akabane e Nakatani. Este último, Dr. Yoshio
Nakatani, então professor de medicina da Universidade de Quioto,
no Japão, estudou a eletropermeabilidade da pele e desenvolveu a
teoria na qual foi estabelecida uma correspondência entre os
pontos e meridianos de acupuntura com o que ele passou a
denominar de Ryodoten (pontos hipereletrocondutivos) e de
Ryodoraku (alinhamento sistemático dos pontos).
Como mostra o livro de Dr. Goto, o estudo da Eletroacupuntura
Ryodoraku das funções dos nervos simpáticos localizados na
superfície corporal revelou os relacionamentos dos mesmos com os
órgãos e vísceras do organismo, através da condutividade
eletrodérmica, construindo dessa forma a teoria sistêmica e sua
terapia.
Portanto, podemos afirmar que os antecessores do Ryodoraku não
seriam os meridianos da Medicina Oriental apenas, mas as funções
dos nervos simpáticos disseminados na superfície corporal.
O método diagnóstico e terapêutico de Dr. Nakatani passou a ser
internacionalmente conhecido como Eletroacupuntura Ryodoraku.
Tal especialidade foi introduzida no Ocidente nos anos 60, tendo
obtido reconhecimento em diversos países. No início dos anos 70,
no Japão, a mim foi proporcionado o privilégio de estudar
Eletroacupuntura com o Dr. Kijiro Imaizumi, então fundador da
Sociedade de Eletroacupuntura Médica do Japão. Ainda nos anos
70, conheci o Dr. Yoshio Nakatani com o qual tive a honra de
aprender o método Ryodoraku. Dessa forma, ao retornar ao Brasil
passei a ensinar a Eletroacupuntura Sistêmica e a
Eletroacupuntura da metodologia Ryodoraku.
Em 1974, de passagem pelo Rio de Janeiro, pude perceber que
raros praticantes de Acupuntura, no Brasil, desenvolviam
interesse sobre Eletroacupuntura. Muitos achavam desnecessário o
emprego da eletroestimulação em pontos de Acupuntura. Contudo,
este panorama mudou quando os acupunturistas brasileiros tiveram
acesso à literatura específica sobre o assunto e passaram a
praticá-la.
Em 1979, na esperança de poder colaborar com o desenvolvimento
da Eletroacupuntura em nosso País, escrevi um trabalho sobre o
assunto, o qual denominei Manual de Eletroacupuntura Médica.
Posteriormente, em 1992, apresentou-se a necessidade acadêmica
de escrever o livro Tratado de Eletroacupuntura: perspectivas
científicas, teoria e prática. Em várias oportunidades fui
convidado a ministrar cursos e a proferir conferências em
companhia de meu ex-aluno, o médico brasileiro Dr. Francisco
Pereira, sobre Eletroacupuntura Sistêmica e Ryodoraku, não
apenas em cursos livres, mas, também, em instituições
universitárias, como a Escola Paulista de Medicina, dentre
outras. Dessa forma, imagino que, após mais de três décadas de
experiência e prática com esse método terapêutico oriental, os
acupunturistas brasileiros estejam usufruindo dos benefícios
terapêuticos da Eletroacupuntura em proveito de seus pacientes.
Parabenizo Dr. Kimiya Goto por esta importante obra, visando a
difusão da Acupuntura Japonesa no Brasil e o emprego do método
Ryodoraku de Eletroacupuntura por acupunturistas brasileiros.
Também espero que com isso ocorra a desmistificação da
Acupuntura em nosso país, lamentavelmente sem a devida e
merecida apreciação da comunidade científica, quiçá devido às
ideologias pseudo-culturais de inspiração supostamente oriental
que fomentam modismos pouco consistentes em detrimento do estudo
holístico da Acupuntura, o qual deve sempre contemplar o bom
senso, integrando ciência e tradição.